Cães e gatos têm sido companheiros fiéis da humanidade por milênios. Sua presença nas casas, cidades e até em várias culturas ao redor do mundo não é apenas um reflexo da afeição que sentimos por eles, mas também uma construção histórica que se estende por eras. Esses animais passaram de simples caçadores e guardiões para se tornarem membros indispensáveis de muitas famílias, adaptando-se à vida ao lado dos humanos e mudando, ao longo do tempo, o próprio curso da nossa evolução social.
O que muitos não sabem é que a relação entre cães e gatos com os humanos não começou apenas como uma troca de companhia. Ao longo da história, esses animais desempenharam papéis essenciais, desde proteção contra perigos até serviços como caça e pastoreio. O processo de domesticação, que os transformou de animais selvagens em parte integral de nossa vida diária, é uma das histórias mais fascinantes da relação entre seres humanos e animais.
Neste texto, exploraremos a origem dos cães e gatos, os primeiros passos de sua domesticação, como eles evoluíram ao longo do tempo e como essa convivência estreita moldou tanto os animais quanto as culturas humanas. Vamos embarcar nessa jornada histórica que nos liga, de forma profunda e emocional, a esses seres extraordinários.
OS CÃES
Os cânidos, que incluem cães, lobos, raposas, coiotes e outros membros da família Canidae, têm uma origem fascinante e uma evolução que remonta a milhões de anos.
Eles surgiram aproximadamente 40 milhões de anos atrás durante o período Eoceno. Acredita-se que os primeiros membros da família Canidae evoluíram a partir de um grupo de mamíferos carnívoros chamados Miacidae, que eram pequenos predadores que habitavam as florestas.
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Primeiros Cânidos:
O primeiro gênero de cânido reconhecido é o Protocyon, que viveu há cerca de 25 milhões de anos. Esse animal era um pequeno carnívoro, muito semelhante a um cão, mas ainda primitivo.
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Diversificação:
A família Canidae começou a se diversificar em várias espécies ao longo dos milênios. Durante o Mioceno (cerca de 20 milhões de anos atrás), surgiram os primeiros lobos, raposas e cães selvagens. Esses animais começaram a se espalhar por várias regiões do mundo, adaptando-se a diferentes ambientes e modos de vida.
Evolução do Cão Doméstico
A evolução do cão doméstico (Canis lupus familiaris) tem sido um tema de grande interesse. Acredita-se que os cães domésticos descendem do lobo cinza (Canis lupus), com os primeiros processos de domesticação ocorrendo há cerca de 15.000 a 30.000 anos.
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- Domesticação: A teoria mais aceita é que os primeiros cães domesticados surgiram de lobos que foram gradualmente atraídos por assentamentos humanos em busca de comida, principalmente restos de caça. Com o tempo, os lobos mais sociáveis e menos agressivos foram selecionados naturalmente por sua proximidade com os humanos, o que levou à domesticação e à formação da espécie de cães domesticados.
- Segundo Dias, R.A. (2019 ) “Os cães domésticos, ora classificados como Canis familiaris, em 1993, foram então classificados como Canis lupus familiaris, uma subespécie do lobo-cinza. Entretanto, é pouco provável que o lobo-cinza tenha sido o ancestral do cão domestico, pois são animais dificilmente, senão impossivelmente, domesticáveis. Provavelmente, uma espécie de lobo já extinta tenha originado tanto o cão doméstico quanto o lobo-cinza há cerca de 36 mil anos atrás, na Ásia Oriental. Apesar desta teoria ser condizente com achados arqueológicos disponíveis, é difícil corroborá-la, pois várias espécies do gênero Canis eventualmente geram híbridos férteis, podendo ter havido intenso fluxo gênico entre o cão e outras espécies.”
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Diversificação das Raças:
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O que é certo, é que a diversidade de raças de cães que vemos hoje é o resultado de milhares de anos de seleção artificial. Os humanos começaram a criar cães para tarefas específicas, como caça, pastoreio, guarda e companhia, o que gerou a enorme variedade de tamanhos, formas e temperamentos que os cães exibem atualmente.
OS GATOS
Os primeiros membros da família Felidae surgiram há cerca de 25 milhões de anos e derivaram de um grupo maior de mamíferos chamado Carnivora, que também deu origem a cães, ursos e hienas.
Proailurus é considerado o primeiro ancestral comum dos felinos modernos, que viveu há cerca de 20 a 25 milhões de anos, no final do Oligoceno e início do Mioceno. Era um pequeno carnívoro arborícola que possuía características semelhantes às dos gatos modernos.
Os gatos domésticos de hoje descendem do gato-selvagem-do-Oriente-Médio (Felis silvestris lybica), uma subespécie do gato selvagem que ainda é encontrada em partes da África e da Ásia. Esses gatos selvagens eram solitários, pequenos, e se alimentavam de pequenos roedores, o que os tornava muito úteis para as comunidades humanas que lidavam com infestações de pragas.
A domesticação dos gatos começou há cerca de 9.000 anos, durante o Neolítico, quando os humanos passaram a se estabelecer em aldeias agrícolas. Os arqueólogos acreditam que isso ocorreu na região conhecida como o Crescente Fértil, que inclui partes do Egito, Mesopotâmia e Oriente Médio.
Motivo da aproximação:
Os primeiros gatos selvagens foram atraídos pelos assentamentos humanos devido à abundância de roedores que infestavam os celeiros onde os alimentos eram armazenados.
Seleção natural:
Os gatos maissociáveis e tolerantes à presença humana tiveram maior chance de prosperar nesses ambientes, o que levou ao início de uma relação simbiótica entre gatos e humanos.
Egito Antigo:
Os gatos tornaram-se altamente valorizados no Egito por sua habilidade em controlar pragas. Eles foram tão reverenciados que passaram a ser associados a divindades, como a deusa Bastet,.
- Bastet, a deusa-gato: Bastet era uma das principais divindades do Egito, ela era representada como uma mulher com cabeça de gato ou como uma gata. Sendo a protetora do lar, da fertilidade, da música, da dança e do amor.
- Aspectos protetores: Os gatos também eram associados a atributos como proteção contra espíritos malignos e boa sorte, reforçando sua posição especial na sociedade.
Com o tempo, os gatos começaram a se espalhar para outras regiões, viajando em embarcações comerciais, onde também atuavam como controladores de pragas. Eles chegaram à Europa, Ásia e, posteriormente, ao resto do mundo.
Durante a Idade Média, os gatos sofreram perseguições em algumas regiões da Europa devido à associação com superstições e bruxaria. Apesar disso, sua população resistiu, e os gatos continuaram a desempenhar papéis importantes no controle de pragas.
A diversidade de raças modernas de gatos domésticos é, em grande parte, uma criação recente. A maioria delas surgiu nos últimos 200 anos, como resultado da seleção artificial feita por humanos. Apesar disso, os gatos mantiveram muitas das características de seus ancestrais selvagens. Entre elas estão suas habilidades de caça, a independência marcante e a notável agilidade.
Por outro lado, diferentemente dos cães, que evoluíram para trabalhar em colaboração com os humanos, os gatos permanecem mais independentes. Mesmo assim, conseguem criar laços fortes com seus tutores, demonstrando que sua conexão com as pessoas não se baseia na obediência, mas em uma convivência harmoniosa.
Essas diferenças entre gatos e cães refletem trajetórias evolutivas distintas. Enquanto os cães desenvolveram características que os tornaram companheiros cooperativos e sociais, os gatos preservaram um comportamento mais reservado. Cada um, no entanto, encontrou maneiras únicas de prosperar ao lado dos seres humanos, especializando-se para ocupar seu próprio espaço na convivência com as pessoas.